26 de outubro de 2021

partiu JP

chegou no aeroporto e logo despachou a bagagem para se livrar do peso.

pegou o cartão de embarque e a senha para retirada das malas no destino final. 

estava muito animada, pois após 10 anos de espera, finalmente retornaria ao Japão.

guardou os papéis e documentos na sua linda bolsa de vaquinha e de olhos fechados suspirou, agradecendo imensamente por aquele momento...

embora estivesse contente, já preparava seu psicológico para enfrentar mais de 24 horas de viagem, em um assento ligeiramente desconfortável, ao lado de alguém aleatório...

ela nem imaginava o que estava por vir na tão esperada aventura.

a hora de ir se aproximava, então abraçou seus pais e alguns amigxs que acompanharam para se despedir

- até logo, meus amores! TMJ. - disse, sorrindo, emocionada e seguiu rumo ao portão de entrada

foi feito todo o ritual resultante da pandemia, aferimento de temperatura, álcool gel e máscara, ok. 

mais uma vez, conferiu seu passaporte, visto, fone de ouvidos e ticket do avião, enfim, estava tudo lá. 

uau, ela estava prestes a sobrevoar o mundão, atravessar as nuvens, acompanhar noite e dia vistos do alto...

mergulhou em sua imaginação e quase perdeu a hora, mas só percebeu isso quando ouviu seu nome ser anunciado nos auto-falantes: "Senhorita Elza, última chamada para embarcar com destino a Tokyo" - e saiu correndo em direção ao seu portão.

a mente estava a milhão, o coração acelerado, mas mantinha uma expressão serena ao caminhar para a entrada daquela imensa aeronave 

ao chegar, foi educadamente recebida pelo comissário de bordo, um moço alto, moreno, forte, com olhos castanhos claros, amendoados, simplesmente encantador ...

por alguns segundos, se perdeu em pensamentos resultantes daquela rápida paixão, mas logo foi puxada novamente para a realidade quando o comissário a chamou : - senhorita? seu assento é o terceiro à direita. 

ela sacudiu a cabeça para se concentrar: - ah, oi, perdão, me distraí um pouco, rs (com um tom tímido)

olhou para onde ele apontava e ficou muito surpresa! - Fileira B-3, o que ? Lá na frente?  - perguntou, com os olhos arregalados.

- sim! sua reserva foi feita na primeira classe. - respondeu o comissário bonitão, calmamente.

Elza apenas soltou um "uau" baixinho e já logo encontrou sua poltrona deliciosa.

ela mal poderia acreditar que estava prestes a voar em alto estilo, com direito a um menu espetacular, vinhos variados e um assento que vira cama, servida por aquele comissário gatérrimo !

um turbilhão de sensações tomavam conta de sua alma naquele momento, ela agradecia em todos os idiomas que conhecia e sorria sem parar.

estava exalando alegria e nesse momento, só queria compartilhar aquele presente divino que acabara de ganhar 

pegou o celular toda animada, clicou e a luz não acendeu

puts, ouviu música o caminho inteiro e agora a bateria havia acabado :(

puts ao quadrado, o carregador ficou na mala que ela despachou lá no começo da história

bom, ainda faltavam alguns minutos para decolar.
"quando o mocinho passar, vou perguntar se podem me ajudar" pensou. 

depois disso, assistimos o avião levantar voo e não sabemos ao certo se ela conseguiu carregar seu celular, se pediu para alguém tirar uma foto dela, talvez até mesmo o comissário, aproveitando para pedir o contato dele, rs ou até se decidiu registrar tudo apenas em sua memória

enfim, ficamos na torcida para que ela aproveite a viagem e aguardamos sua mensagem contando quais foram os próximos capítulos dessa história

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Meu ideal seria escrever -

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!” 

E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa (que não sai de casa), enlutada (profundamente triste), doente. 

Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada como o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera, a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário (autoridade policial) do distrito (divisão territorial em que se exerce autoridade administrativa, judicial, fiscal ou policial), depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!” E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa (habitante da antiga Pérsia, atual Irã), na Nigéria (país da África), a um australiano, em Dublin (capital da Irlanda), a um japonês, em Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: “Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou (introduziu-se lentamente em) por acaso até nosso conhecimento; é divina.”

E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.


Rubem Braga



- conheci durante o curso de escrita simplificada, por Marcelo Maluf e gostei muito.
saboreiem com carinho

@loveslari, de SP pro mundo :


21 de outubro de 2021

salada de frutas

 Abriu os olhos e viu seres de várias espécies

* Amoras altamente pigmentadas, abacaxis com casco áspero e miolo doce, maçãs elegantes, uvas sempre unidas ao seu cacho, laranjas e limões cítricos, pêssegos aveludados, os morangos azedinhos e embora tenha se identificado com todas as frutas, se encantou mesmo foi com a variedade na família das bananas. 

Cada uma do seu jeito, umas em caldas, outras passas, com aromas e sabores específicos, além de épocas distintas para florescer. 

Desde o primeiro suspiro, viajou na natureza e aproveitou experimentar de tudo. 

Aprendeu muito com as diferenças. 

Essa salada de frutas passou por mãos, garfos, colheres, facas e hashis, alimentando dias e noites de saúde no planeta infinito que habitou.

Esses foram alguns ingredientes da vida de uma jovem artista arteira, Lari, com fome desde mil 900 e balinhas...




hora são, fim de março 2.4

Enquanto nos despedimos do mês de março sob o olhar sábio do dragão no Japão, o Brasil começa a doce manhã de Páscoa em sua plenitude. Viva!...