19 de julho de 2017

Vestibular pra cabular

Ele passava pela timeline das redes sociais em busca de algo transformador quando viu o anúncio para o vestibular.

Pensou:
- Uma boa oportunidade de começar o segundo semestre do ano! Um curso gratuito de conteúdo atraente.

Ok, decidiu clicar no link.

Leu todas as instruções, fez a inscrição e tentou estudar com base nas provas anteriores.

As questões eram fora de série. Principalmente na parte de física, química e matemática, que continham fórmulas complexas, termos técnicos e questões da qual a maioria jamais precisaria saber na jornada da vida.

Lembrou de seus amigos que faziam cursinho e estavam sempre estudando matérias bem específicas para conseguir passar na faculdade desejada.

Aquele típico conhecimento padrão que não explora a vocação.

Enfim o dia da prova chegou. Ele havia se dedicado, pesquisou o que pôde e estava disposto a dar o seu melhor naquele momento.

Pessoas foram convocadas para criar e corrigir as provas, outras tantas eram responsáveis por entregar e fiscalizar os estudantes por 6h em um dia específico.

As salas de aula das escolas que cederam o espaço para a realização da prova tiveram as carteiras enumeradas, com os nomes e identificação de cada inscrito.

O fiscal conferiu os documentos, pediu para que os celulares fossem desligados e encaminhou os alunos para suas devidas mesas.
Em seguida, o sinal tocou para alertar o momento oficial de entrega das provas e gabaritos.
Todos deveriam permanecer em silêncio, concentrados em dar seu melhor para responder as 56 perguntas que não tinham nada a ver com o que seria ensinado no curso escolhido.
De quebra ainda teriam que escrever uma redação com o tema daquele ano.

Ao ler as questões, sentiu um certo desespero em seu coração, pois haviam contextos da qual ele não fazia idéia do que se tratava ou sobre como resolver aquelas incógnitas. 


Apesar da imensa vontade de aprender a gama de matérias que seriam oferecidas, o moço sentiu-se incapaz de fazer parte do pequeno grupo de pessoas que iriam ocupar as 20 vagas disponíveis.

Eram mais de 1000 candidatos, com desejos e talentos diferenciados. Mas apenas 20, os vinte que tivessem o melhor desempenho naquela bendita prova pontual que de fato teriam a oportunidade de ingressar no curso.

Ele se perguntava quem seriam essas pessoas... Quão interessadas estariam em aprender, quão engajadas estariam na sociedade para possivelmente trazer melhorias, quão importante seria para aquela pessoa poder estudar em uma faculdade pública, quão próximas seriam do assunto e qual nível de afinidade teriam com aquele conteúdo. 

Enfim, ele não pode fazer nada para mudar o sistema que não explicou o contexto da universidade, quem dirá medir o nível de interesse do candidato.

Não conseguia parar de pensar na quantidade de conhecidos que fariam uma prova daquele segmento com facilidade, porém não tinham atração alguma pela direção que os levaria.
Ficou ainda mais chateado ao lembrar de uma amiga que passava em provas para agradar seus pais, mas não tinha paixão pelo que fazia. 

Percebeu que havia um desperdício muito grande.

Ele gostaria de poder mudar. Sonhava em criar um sistema de seleção mais eficaz, em que a verba investida fosse estrategicamente utilizada para selecionar quem REALMENTE faria bom proveito das poucas vagas.

Mas ele não podia fazer nada, apenas preencher a folha de respostas e entregar a prova.

Fechou os olhos e respirou fundo. A essa hora já tinha terminado sua parte e estava pronto para ir embora. 
- O que tiver que ser, será. Suspirou e partiu.
Ainda faltavam alguns dias para que o resultado final fosse divulgado. O garoto ficava entre a esperança e a desistência, mas aguardou até o dia oficial para saber se havia passado ou não.
A resposta ainda não é certa. Portanto, pergunto a você, leitor:
- Quem é ele?
- Acha que ele passou?

Iremos saber nos próximos capítulos.

Justo ou não, é assim que escolhem quem ganha as vagas da faculdade neste texto sobre o "vestibular para cabular"

hora são, fim de março 2.4

Enquanto nos despedimos do mês de março sob o olhar sábio do dragão no Japão, o Brasil começa a doce manhã de Páscoa em sua plenitude. Viva!...